Gota por gota desbravam as planícies, escorrem por entre a relva, alcançam a pequena praça repleta de crianças, no alto, o azul do céu perdera o branco das nuvens, em seu lugar uma cor cinza com aspecto carregado toma conta dos céus.
As crianças que aproveitavam aquela tarde tão convidativa a uma brincadeira na rua, correm para as suas casas, enquanto deixam um rasto de poeira, gritos e risos, já que o céu não parece mais o mesmo de antes, aquele cinza chega a dar medo, e elas sabem que uma tempestade se aproxima.
As janelas agora fechadas executam sua função de proteger, manter seco e resguardado tudo aquilo que se encontra em seu interior. O som provocado pelo choque das gotas ao tocarem no chão e o estalar das espessas gotas nos telhados e nas calhas está mais forte, o vento e o barulho aumentam gradualmente, se tornam constantes, é impossível não ouvir tal inquietação.
O pátio agora vazio recebe o poder das águas, o vento forte lança para longe as folhas secas que mesmo mortas, ainda insistiam em manter-se na copa das árvores. Em um espaço mais amplo daquele pátio se encontra um objeto redondo, desgastado e imóvel. Nem mesmo a força dos ventos e caminho criado pela força da água conseguem movê-la. Aquele objeto a poucos instantes era disputado a gritos pelas crianças e seus pés nervosos. A diversão que ele proporcionara foi abruptamente cancelada pelas nuvens carregadas, os pingos expessos e a mancha cinza que anunciavam a tempestade. E por assim ficou durante horas.
A essa altura a tempestade gradualmente está perdendo seu vigor. Os velhos telhados agora não produzem mais aquele som tão forte e ao mesmo tempo acolhedor e quietante, as velhas janelas começam a ranger, estão sendo abertas. O cinza intenso que tomara conta dos céus começa a se dispersar. Os primeiros feixes de luz retomam seus lugares, invadindo as casas através das janelas, iluminando a relva, as sacadas e o pátio. As crianças agora surgem aos montes olhando pelas janelas, parecendo não acreditar que a tempestade dera lugar a um dia tão lindo. O pequeno objeto redondo e desgastado ainda está no mesmo lugar que fora esquecido.
Já não há tempestade, o sol retomara seus domínios, brancas nuvens se formam, parecem disputar os melhores lugares naquele seu céu azul. Logo abaixo as crianças levadas pelo momento começam a sair de suas casas, algumas mais afoitas nem se preocupam em procurar a porta mais próxima, soltam as janelas, mas antes confirmam se não tem nenhum adulto vendo o ato, elas sabem que soltar janelas não é uma coisa que se faça. O som da tempestade da lugar aos gritos incessantes dos pequenos que assim como as nuvens, disputam o melhor espaço, a diferença é que enquanto elas buscam o melhor lugar no pátio, as nuvens buscam o melhor lugar nos céus.
Assim se segue a vida, momentos tempestuosos e momentos de alegria, como as nuvens e as crianças que disputam entre si, um preocupado com seu lugar no céu, outros no pátio e a vida mantendo seu fluxo. Aqueles meninos e meninas terão que acostumar a se daptar a estes momentos, a vida guarda muitas disputas e muitas surpresas que eles ainda nem podem imaginar.